sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Diário de Bordo[i]


O escritor Eduardo Vasconcelos considera que o trânsito é uma questão social e política, além de técnica. E isto por definir o trânsito como um conjunto de deslocamentos diários, feitos pelas calçadas e vias da cidade, e que aparece na rua como forma da movimentação geral de pedestres e veículos. Está ligado as características de cada sociedade.
Estes deslocamentos apresentam conflitos, como o físico e político. Físico devido à disputa de espaço, como “dois veículos” [1] querendo estacionar na mesma vaga e político, pois reflete os interesses de cada pessoa no trânsito, com suas diferenças sociais, econômicas e políticas.
O trânsito é movimento, então ocorre conforme o ambiente estabelecido e da qualidade de vida que se busca.
Esta semana observando com mais cuidado os ambientes que andava, percebi como nos contradizemos conforme nossos interesses. Quando estamos nos locomovendo de carro ou de moto ficamos às vezes com raiva de outra pessoa que está a pé por não andar mais rápido e acabarmos perdendo o sinal aberto e como ficamos felizes quando uma pessoa de carro para na faixa para podermos passar. Como nossos discursos e práticas são contraditórios?!
Vi caminhões ultrapassando de forma perigosa carros menores, bicicletas ultrapassando sinais vermelhos ou andando na contra mão e fora das ciclovias. Espaço utilizado pelos pedestres, buscando proteção.
E comecei a me questionar qual o real objetivo da construção de ciclovias?! Como inserir políticas de respeito às leis do trânsito?! Mas, será que o código vigente alcança nossas demandas?
O Brasil é um dos recordistas mundiais em acidentes de trânsito e isto me induzi a pensar vários porquês. Já que não devemos esquecer que cada pessoa envolvida nestes acidentes tem sua personalidade e cultura.
Geralmente ao sair do trabalho e da faculdade pego um moto-táxi e este sempre tem alguma história para contar ou ficam num silêncio eterno. E semana passada (21/08/09), teve um que do percurso do trabalho para casa, me contava super motivado sobre a lei que foi assinada que em todos os lugares teria moto-táxi, pois havia se tornado profissão legalmente. E rapidamente me veio à lembrança de mais uma atitude para se evitar ou atrasar transporte público em Sobral. Por quê?! Até temos, mesmo em uma escala super reduzida que não atinge as demandas de todas as localidades. Encontramos um ônibus para Coabe I e topicks para Terrenos Novos, Coabe III e Sumaré.
Em Fortaleza, todo noite estava pegando ônibus para ir ao curso no Del Paseo e no decorrer da semana fiquei pensando como um transporte abrange pessoas de todas as classes sociais, localidades e com destinos e interesses diferentes e mesmo assim, se torna possível a construção de vínculos.
Observar de forma mais detalhada estes deslocamentos diários, trânsito, me apresentou questões, algumas já expostas neste texto. E que serão mais questionadas no decorrer da disciplina e de minha vida, já que o trânsito como movimento nunca para.


[1] O forte simbolismo do carro lhe confere uma natureza humana, fazendo esquecermos que não são dois carros disputando uma vaga, e sim, duas pessoas com interesses diferentes e comuns.

[i] Semana observada: 24 a 29/08/09 em Fortaleza, Ceará.

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