sábado, 12 de setembro de 2009

CARROS DO FUTURO

Dias atrás foi noticiado em vários jornais que o número de automóveis fabricados no mundo e no Brasil aumentou em cerca de 23%. Em matéria da revista Exame de 30/01/2008 anuncia-se a Busca do Carro do Futuro. As ruas das cidades brasileiras se enchem de veículos diariamente. Mais e mais pessoas obtêm a Carteira Nacional de Habilitação. Medidas de contenção do trânsito pesado: fiscalização, abertura de mais avenidas, mais sinalização e, é claro, educação! A Saúde, já em esgotamento, recebe atônita o sintoma, vítimas de “acidentes”. Criam-se fórmulas de soluções impossíveis. Ficamos com as medidas de contenção. Em Fortaleza e interior do estado do Ceará, aumenta a frota de veículos. O que se ouve são reclamações diárias sobre “engarrafamento”. E o bar da esquina põe cadeiras à varanda e oferece drinks tendo o monóxido de carbono e os indivíduos isolados nos veículos como paisagem. Quase não se escuta as discussões necessárias sobre mobilidade humana. Esta está inexoravelmente atada às promoções alucinantes de vendas de novos carros em 86 parcelas de R$ 400,00. O que antes era proposta de compra de casa nova (bem imóvel) hoje é a conquista da velocidade ilusória (bem móvel). Mobilidade automotiva, imobilidade humana. Seres e sujeitos autômatos, divididos entre o dentro e fora dos veículos completamente recobertos por películas intransponíveis. Absortos no movimento passivo pilotam as ruas cada vez mais abarrotadas de carros de tração no asfalto liso da urbes. Os Carros do Futuro não poluirão de forma tão destrutiva o ar do planeta, mas garantirão formas mais concretas de dissociação dos sujeitos supostamente móveis, supostamente livres, supostamente felizes. Entre rodas e asfalto perde-se o sentido do espaço, rompem-se vínculos, destituem-se afetos. E eis apôs que diante de mais um eventual assalto no sinal, far-se-ão passeatas pedindo paz!

gmm, 03/2008, artigo enviado 3 vezes para o Caderno Opinião do Jornal O POVO e não publicado (por que? não sei...)

2 comentários:

  1. Cara Gislene, acho que suas colocações e comentários são muito pertinentes. Tenho observado, na posição de ciclista, como é difícil ser percebida e respeitada pelas máquinas furiosas.
    Sempre que pego a Isadora no colégio também vejo quão discrepante é o "discurso cidadão" do "gesto narcísico" de deixar os carros parados em qualquer lugar, inclusive sobre faixas de pedestre, calçadas, ao lado dos carros corretamente estacionados, trancando a via de saída...esse é um desafio que nos atravessa e devemos sempre nos perguntar em qualquer situação de caos: o que temos com isso? Como podemos mudar essa realidade? um beijo

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  2. Camila
    Agradeço tua visita e comentários no nosso blogue! Só vi seu comentário hoje!!!
    Mas bem, carro é um troço que realmente nos afeta! E em Sobral ainda é ilusoriamente confundido com glamour. Espero que nosso trabalho conjunto possa desarticular esse valor e inverter essa lógica de mobilidade individual motorizada.
    Bjo
    Gislene

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